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Criar é loucura de autoamor

Pare pra pensar: seu processo criativo, seja ele como for, é uma relação com seu corpo. Pode ser uma relação de trabalho, visando resultado, a mente patrão o corpo empregado. Pode ser uma relação amorosa, autoerótica, de ventania e atravessamento.


De qualquer forma, quando a gente fala de processo criativo, a gente está falando do caminho que o nosso corpo faz para materializar algo nesse mundo e/ou do caminho que esse algo faz, no nosso corpo, para se materializar.


Por outro lado, somos ensinadas a controlar nossos corpos, porque eles “têm que ser” assim e assim. Ou a abandoná-los porque eles nunca serão assim e assim, então não servem para mais nada. Nos é dito que o corpo em relação à mente, assim como a mulher em relação ao homem, é passivo e traiçoeiro, inferior e perigoso – insuficiente.


O corpo. Esse bicho poderoso e criativo. Esse bicho que é a própria vida.


Contar essa história sobre os corpos faz parte do processo de dessacralização do corpo para tornar possível o trabalho diário, a violência de si visando o aumento da produção (leia o calibã e a bruxa). Dessacralizar o corpo é retirar sua capacidade criativa e reforçar sua capacidade repetitiva, produtiva, linear.


Então veja: como é que uma pessoa que aprende que seu corpo não serve vai amar o próprio processo criativo? Vai amar o que o seu corpo traz ao mundo e a maneira como faz isso? Vai se sentir capaz de criar? Vai se permitir sentir prazer ao criar, ao viver?


É claro que primeiro a gente vai se sentir insuficiente. A gente vai achar que precisa ser outra pessoa, ter outro corpo, outra condição no mundo. A gente vai sentir que é melhor desistir dessa bobagem, dessa loucura, e talvez a gente não desista, mas também não consiga se entregar por completo a essa história de amor.


Para. Respira. Vem comigo.


Se amar o nosso processo criativo é amar a aventura criativa do nosso corpo, o caminho de criação pode ser um caminho de cura, um reencontro, um devolver ao corpo sua dimensão sagrada.


Assim, curar a relação com nosso corpo se torna o caminho de descoberta da nossa voz singular, poética, da nossa revolução nesse mundo.



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